Por Lucas Farias – Vice-diretor dA Tarefa e diretor de treinamento
Em 2024, me deparei com uma situação muito interessante – daquelas que só Deus nos dá a oportunidade de viver. Eu estava no meio da selva amazônica, participando de um seminário bíblico indígena, acompanhado por alunos da nossa escola de missões, o T3 (The Task Training).
Fomos convidados para servir naquele seminário, onde havia diversas necessidades e formas de contribuir. Quando perguntei como poderia ajudar, acabei no meio do rio Solimões, dando aula de Teologia Bíblica de Missões para alunos de duas etnias: os Daws e os Hixkaryanas.
Essas etnias, até pouco tempo atrás, sequer sabiam da existência uma da outra. Suas línguas e costumes são completamente diferentes. Já no primeiro dia de aula, um aluno fez uma daquelas perguntas desafiadoras: “O que é a glória de Deus?”
Que pergunta complicada! Não é fácil respondê-la, nem mesmo para os membros da minha igreja local em Curitiba, imagine para pessoas de uma cultura quase totalmente diferente da minha. Além disso, eles vinham de aldeias onde não se fala português. Depois de dois anos de seminário, com aulas em português, compreendiam apenas o básico do básico.
Resumindo: eles tinham dificuldades para se entender entre si, pertenciam a uma cultura essencialmente oral. Como, então, eu poderia explicar um conceito tão profundo como a glória de Deus de uma forma que fizesse sentido para eles?
Olhei ao redor como o salmista no Salmo 121, que ergue os olhos para os montes e clama por misericórdia. Foi então que me veio um estalo – daqueles que só o Espírito Santo pode dar. Pedi aos alunos que olhassem ao redor. Era uma manhã agradável. O rio, baixo por causa da seca, nos permitia manter os pés imersos na água fresca. A luz do sol refletia nas águas, criando uma atmosfera de paraíso. O céu, de um azul anil, era digno de ser pintado e exposto em alguma galeria de arte. As aves passavam formando uma sinfonia maravilhosa, e o verde das árvores exibia uma beleza incomparável. Eles olharam ao redor, curiosos, tentando entender o que chamava minha atenção.
O que vocês veem? — perguntei.
Eles riram como crianças. Então fiz outra pergunta:
Quando eu olho para este rio, vejo beleza. E vocês? O que veem quando olham para o céu? O que enxergam quando observam a natureza?
Os risos deram lugar à reflexão. Um a um começaram a responder:
Eu vejo poder.
Eu vejo força.
Eu vejo profundidade.
Eu vejo mistério.
Eu vejo grandiosidade.
E, por fim, um deles disse:
Eu vejo Deus. E todos concordaram.
Naquele contexto reflexivo de contemplação, pedi que um deles lesse Gênesis 1.1: “No princípio, Deus criou os céus e a terra”. Então fiz outra pergunta:
O que vocês enxergam de Deus nesse versículo?
Um a um começaram a responder: Beleza, criatividade, força, soberania, inteligência, sabedoria, paz, amor, grandeza… Foram muitas as características mencionadas.
Nesse momento, compartilhei com eles que “glória” é o resumo dos atributos de Deus — aquilo que enxergamos Nele. E a forma correta de reconhecermos esses atributos não poderia ser outra senão por meio do louvor. É impossível contemplar a Sua glória e não adorá-Lo; seria como o absurdo de permanecer indiferente diante de uma beleza espetacular.
A glória de Deus é mais do que um conceito, é a forma como Ele se revela. Como está escrito: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1.14 – NVI)
Glória é o que enxergamos naquilo que Ele permite que conheçamos d’Ele. A sua natureza é gloriosa (Atos 7.2). O seu reino é glorioso (Salmo 145.10-13). A sua missão é gloriosa (Salmo 96.3-4). Por isso, a Bíblia é a história da sua glória — do Deus que se revela para atrair a si a adoração de todos os povos, de todas as línguas e culturas, porque Ele é digno. Que eu e você possamos enxergar os atributos gloriosos de Deus revelados a nós no dia a dia — em nossa rotina, em nosso lar, ao nosso redor, em um parque, em nossos devocionais, nas músicas que cantamos em coro em nossos cultos dominicais, nas amizades. Que eu e você possamos vê-los… e glorificá-Lo ao reconhecê-los.