Autor: Pr. Eli Maga – Presidente dA Tarefa
A Bíblia é como uma janela aberta para uma paisagem magnífica pintada por Deus. Nós, pastores e missionários, porém, muitas vezes nos especializamos apenas em estudar a própria janela – avaliamos a espessura do vidro, a distância entre as molduras, o tipo e a qualidade da madeira. Gastamos tempo examinando cada detalhe da estrutura, mas nos esquecemos de olhar através dela para contemplar a paisagem viva e transformadora que o Senhor revela diante de nós. Assim, acumulamos conhecimento mas carecemos de vida. Afinal, Jesus não veio para termos “conhecimento em abundância”, mas “vida em abundância”. O conhecimento tem seu valor, mas a vida de Deus em nós é essencial.
Estamos tão ocupados preparando sermões que nos esquecemos de pregar a nós mesmos. Nosso foco está na produtividade e não na nossa profundidade no relacionamento com Deus.
Hoje, muitos pastores e missionários estão tão ocupados com atividades administrativas, projetos sociais, eventos de arrecadação, programas de ensino bíblico, ministérios específicos para homens, mulheres e outros grupos, que acabam se afastando da essência de seu chamado. Esquecem-se de contemplar a Deus. Perderam o assombro diante da presença do Altíssimo. Esvaziaram-se da paixão divina.
O pastor e o missionário precisam priorizar aquilo que os apóstolos reconheceram como essencial: dedicar-se à oração e ao ministério da Palavra (Atos 6:4). A prática constante da oração é vital para a saúde espiritual do ministro e para a frutificação de seu ministério. A profundidade da vida de oração de um líder sempre se refletirá na profundidade de sua obra.
O ativismo religioso pode, por algum tempo, disfarçar um vazio existencial e encobrir uma crise espiritual. Mas somente uma vida de oração intensa e sincera nos conduz ao descanso sob a sombra do Onipotente, onde a alma encontra refúgio e o ministério se reveste de verdadeira vida.
Toda vocação ministerial, indiferente se é pastoral ou missionária, é um chamado a viver uma vida de oração e consagração ao Senhor. Samuel disse: “Ai de mim se eu não orar por vocês” (1 Samuel 2:23), consciente de que parte fundamental de seu trabalho como profeta era orar pelo povo. Igualmente, o ministro deve viver uma vida de oração.
A vocação pastoral e missionária é, em sua essência, um chamado para a evangelização, independentemente das especificidades de cada ministério. No entanto, não é incomum encontrar pastores e missionários tão ocupados e distraídos com outras demandas que já não evangelizam mais. Perderam o foco de sua missão e o resultado inevitável é o esvaziamento espiritual. É preciso recordar as palavras de Paulo: “Ai de mim se não pregar o Evangelho” (1 Coríntios 9:16), bem como sua exortação ao jovem pastor Timóteo: “faça a obra de um evangelista” (2 Timóteo 4:5).
Muitos pastores e missionários entram em crise emocional justamente porque se desviaram do centro de seu chamado. Confundiram a missão de Deus com o Deus da missão, permitindo que as atividades substituíssem a intimidade. A única cura para essa enfermidade espiritual crescente é um reavivamento vocacional, um despertamento profundo que devolva aos nossos pastores e missionários a chama da presença de Deus e a alegria de cumprir o propósito para o qual foram enviados.
O que a Igreja pode fazer? Um chamado à ação.
A igreja cumpre bem o seu chamado quando “encaminha” seus missionários “em sua jornada de modo agradável a Deus”, pois “foi por causa do Nome” que eles partiram, e assim ela se torna cooperadora “em favor da verdade” (3 João 1:6-8, NVI).
Mas acredito que o suicídio de pastores e missionários é, na verdade, um grito de socorro da igreja de hoje. Como igreja, precisamos ser mais humanos e menos exigentes; mais realistas e menos perfeccionistas. Diante disso, o que a igreja pode fazer para transformar essa realidade?
1 – Seja um apoio, não um juiz
A igreja deve criar um ambiente onde pastores e missionários se sintam à vontade para expressar suas lutas sem medo de serem julgados. Ofereça um ouvido atento e procure discernir o coração do seu líder, cuidando não apenas de sua vida espiritual, mas também de sua saúde física e emocional.
2 – Apoie financeiramente com sabedoria
A igreja deve se comprometer com o sustento de seus missionários com a mesma seriedade que dedica ao sustento de seu pastor local. Entenda que um salário digno e a ausência da luta constante por recursos financeiros são essenciais para prevenir o burnout e vários outros perigos.
3 – Incentive o descanso
A igreja deve não apenas permitir, mas encorajar o descanso. Cuidar do repouso desses servos é essencial para permanecerem firmes no longo prazo.
4 – Abra espaço para o cuidado profissional
A igreja pode criar um fundo de apoio para que seus líderes possam ter acesso a aconselhamento cristão, psicoterapia ou auxílio psiquiátrico, sem o peso do custo ou do preconceito.
5 – Caminhe lado a lado
Não basta enviar missionários para o campo; é preciso caminhar ao lado deles. Mantenha contato constante, ofereça apoio em oração e lembre-se de que a distância cultural e a hostilidade do ambiente só ampliam o estresse e a vulnerabilidade.
Querido pastor, querido missionário: se você tem lutado contra a ansiedade, a depressão ou se sente à beira de um colapso, quero te encorajar a buscar ajuda. Converse com um amigo de confiança ou procure o apoio de um conselheiro cristão, de um psicólogo ou de um psiquiatra. Não caia na armadilha do orgulho que tenta esconder suas fraquezas. Se você tem enfrentado pensamentos suicidas, interrompa tudo o que estiver fazendo e busque apoio imediato. Não permita que o desespero tenha a última palavra. Sua vida é preciosa demais para ser entregue à escuridão.
Como igreja de Cristo, precisamos lembrar que a missão não é realizada apenas por aqueles que vão, mas também pelos que ficam. Cuidar dos missionários é uma das maneiras como podemos servir à missão e glorificar a Deus. Que o Senhor te abençoe e te capacite pelo poder do Seu Santo Espírito!
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