ÁREA DO MISSIONÁRIO

IGREJA PARCEIRA

Cuidando de quem cuida – Parte 3


Autor: Pr. Eli Maga – Presidente dA Tarefa

O brilho nos olhos de um ministro logo se apaga quando ele se vê sobrecarregado com tarefas que não deveria gastar tanto tempo fazendo. Poucas coisas roubam tão rapidamente a alegria de um missionário quanto despender sua energia no que não foi chamado a fazer e, ao mesmo tempo, negligenciar o que Deus o chamou a fazer.


Na maioria das vezes, essa sobrecarga acontece por falta de opção. Com medo de não ter o suficiente para se sustentar, o missionário se vê encurralado, obrigado a acumular várias funções apenas para garantir o sustento da família. Nesse processo, além de se esgotarem física e emocionalmente, muitos acabam negligenciando o propósito de seu chamado. Não é incomum encontrar missionários frustrados no campo por não terem apoio de suas igrejas.


A luta pelo sustento missionário é uma das maiores fontes de angústia na vida de inúmeros obreiros. O número de missionários que abandonam sua vocação por falta de apoio de suas igrejas é incalculável. O livro “Valioso demais para que se perca”, de William D. Taylor, coloca este problema como uma das principais razões para o retorno prematuro de missionários do campo. Infelizmente, o princípio de que o “Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Coríntios 9:14), nem sempre é aplicado aos missionários. Eu mesmo já precisei me dividir entre diferentes empregos apenas para continuar cumprindo o ministério que Deus me confiou. Ainda assim, em cada uma dessas fases, o Senhor se mostrou bondoso e me guiou com fidelidade.


Muitos missionários que enfrentam por longos períodos a luta pelo sustento acabam desenvolvendo a Síndrome de Burnout. Alguns, decepcionados com a falta de apoio, perdem a confiança na igreja e seguem em ministérios isolados, marcados por mágoas em relação a pastores e igrejas. O número de missionários “desigrejados” cresce cada vez mais, fruto não apenas de dificuldades financeiras, mas também de feridas nos relacionamentos. Muitas vezes é a própria igreja a maior adversária do cumprimento da missão.


A igreja precisa compreender o seu papel pastoral de cuidado integral, lembrando-se de que aqueles que são enviados aos campos transculturais continuam sendo ovelhas que precisam de acompanhamento, apoio e pastoreio constantes. Não basta enviar, é preciso caminhar lado a lado.


É raro encontrar uma igreja que se preocupe com o sustento de um missionário com a mesma seriedade que dedica ao sustento de seu pastor local. O missionário, tal como os apóstolos no início da igreja, muitas vezes é colocado “em último lugar, como se estivesse condenado à morte, feito espetáculo ao mundo” (1 Coríntios 4:9). Recordo-me de uma conversa com um líder de igreja sobre as dificuldades financeiras de um casal em campo transcultural. A resposta dele me deixou perplexo: “Mas eles não foram para lá justamente para isso? Ser missionário é sofrer.” Será que estamos cultivando uma interpretação bíblica e sadia que glorifica a Deus com relação à maneira como lidamos com nossos missionários?


A dura realidade é que grande parte do sofrimento dos missionários não vem apenas do mundo hostil em que servem, mas, lamentavelmente, da própria negligência da igreja. O propósito aqui não é lançar culpa, mas despertar consciência. É preciso abrir os olhos da igreja para o que incontáveis missionários têm enfrentado e lembrá-la de seu compromisso de cuidar, em primeiro lugar, dos membros da “família da fé” (Gálatas 6:10).

“O grande desafio é entender meus limites” – enfrentando a Síndrome de Burnout
Por: Missionária GE


Tive burnout em 2016, mas os primeiros sinais começaram em 2014.
Na época, trabalhava em Porto Velho, entre tribos indígenas, fazia viagens longas e de contexto cultural totalmente diferente e desafiador. Tinha muito trabalho, além das responsabilidades da vida pessoal. Percebi que meu corpo estava cansado e minha mente também.


Tentei diminuir minhas viagens e ter um ritmo menos frenético, mas não conseguia dormir profundamente, ter uma noite de descanso e acordar bem. Cheguei a um ponto em que não dormia, meu cérebro trabalhava desesperadamente, e minha vida espiritual também entrou em fadiga. Foram dias de poucas ou nenhuma palavra em minhas orações; eu não sabia nem tinha ânimo para me expressar.


Parei por um tempo e fui à procura de ajuda, indo para Anápolis. Foi um período muito intenso e importante para perceber meus limites. No Oasis, tive acompanhamento de excelentes profissionais. Naquela época, em 17 anos de ministério, nunca havia tirado um ano sabático. Eu viajava por várias tribos, vários países, trabalhando muito, e ali pude perceber meus limites e aprender a me respeitar.


Esse auto-respeito foi o que mais me ajudou: pude pensar descansar e perceber que o mundo continua girando mesmo se eu não estiver trabalhando.


Saí do Oasis e procurei um psiquiatra, que me diagnosticou com síndrome do pânico. Tomei medicação por oito meses e, ao retornar, ele a suspendeu. Melhorei, voltei a dormir bem, meu cérebro voltou à velocidade normal, e não em velocidade máxima. Voltei a ter palavras nas orações, percebi que as coisas começaram a ficar coloridas ao meu redor novamente e recuperei a alegria nas pequenas coisas.


Hoje, me comparo a um elástico que foi muito esticado: quando volta, não retorna ao seu estado original, novinho como quando comprado. Por isso, o autocuidado e o auto-respeito são práticas que precisam me acompanhar sempre.


Em momentos de pressão, ainda sinto ansiedade; em situações novas e desafiadoras, o pânico ainda pode se aproximar. Graças ao tempo em terapia, aprendi a me restabelecer quando percebo as crises voltando. A vida na Índia traz desafios e pressões, e preciso lidar com eles de maneira clara e estabelecer meus limites.


Ainda faço terapia por meio de um programa de cuidado com missionários oferecido pela minha igreja em Curitiba, o que tem me ajudado a ter um olhar de sabedoria sobre mim mesma, a compreender minha jornada em missões e a aprender que o que faço é importante, mas quem eu sou é o que realmente importa para Deus.


Estar em um casamento acolhedor também faz toda a diferença. Alguns passos que tomei para cuidar da minha saúde mental foram fundamentais: desliguei minhas redes sociais para reduzir estímulos e comecei a ler mais, o que traz muita calma à minha mente.


Não espero voltar a ser como antes — nem quero. Hoje, meu foco é me respeitar. Mesmo amando as pessoas e sendo amada por elas, percebi que nem sempre entendem a situação de quem tem burnout; é difícil às vezes compreender o que significa estar sempre cansado.


Fico atenta a todos os sinais e sei que não preciso agradar todo mundo. Um simples “não posso hoje” às vezes é necessário para a minha saúde mental. Sei que, mesmo sendo desafiador, preciso entender meus limites para ser uma boa amiga, esposa e missionária, e acima de tudo, uma boa filha de Deus, glorificando-O com minha vida, minhas limitações e minha dependência Dele.

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